Amar é cansar-se de estar só: é uma cobardia portanto, e uma traição a nós próprios (importa soberanamente que não amemos) Bernardo Soares, O livro do Desassossego


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quinta-feira

Avisei.
Bastas vezes.
Uma completa e tremenda falta de educação. E principios. Há que respeitar o espaço de cada um.
Ordenadamente. Civicamente.
Tentei a aproximação civilizada, falei, expliquei a situação e as consequências.
Nada.
Tudo se repetiu nos fins de semana.
Deixei uma pequena nota na caixa do correio. Duas. Três, quatro.
Nada, voltou o barulho infernal do rádio do carro, as aceleradelas antes de desligar a ignição, a porta do prédio a bater com toda a força.
Uma falta de consideração.
Às quatro, cinco da manhã. Quando o sono dos justos se concilia até ao erguer para se cumprir o seu dever de cidadão.
Das vezes seguintes apelei às forças de segurança.
Pago os meus impostos, tenho direito a que zelem pelo meu sono.
Mas só vieram por duas vezes. Ocupados a prenderem ladrões, desculparam-se.
Por isso deixei de avisar.
Tirei-lhe o sono como ele mo tirou aos fins de semana pela madrugada.
Ninguém me pode acusar que não tenha sido paciente.
Tão paciente que esperei por ele uma noite inteira, cheio de frio, no vão do prédio, para lhe impedir os pneus do carro voltarem a rolar para outros fins de semana.
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