Amar é cansar-se de estar só: é uma cobardia portanto, e uma traição a nós próprios (importa soberanamente que não amemos) Bernardo Soares, O livro do Desassossego


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segunda-feira

D.Mariazinha é conhecida de D.Aninhas. Conhecem-se desde o tempo de carteira. Frequentam os mesmos sitios e partilham das mesmas amizades. Nutrem os mesmos gostos pelos bordados e rendas, chás reumatismais e missa dominical das nove.

Ainda assim, o cumprimento não passa de um beijinho e do tratamento distante de minha senhora.
Apesar dos caminhos se cruzarem com a mesma frequência de um familiar próximo.

Porque as duas ainda meninas, competiram para o quadro de honra na escola e porque foram incriminadas do crime de cópia no exame final sem nunca se ter descoberto quem, apesar de se terem acusado mutuamente, o lugar foi dado a uma terceira.

D.Mariazinha não perdoa esta derrota a D.Aninhas.
D.Aninhas não perdoa o enxovalho a D.Mariazinha.

Levaram a vida nesta pendenciazinha sem nunca ter esclarecido ou confessado.Tropeçam uma na outra com o amiúde social e porque a compostura impõe, perante outros nunca se negam à salvação costumeira em que a boa-educação lhes é sempre reconhecida.
 
Porém se o destino as põe no mesmo passeio em dia de mercado, sem outra alma na companhia do braço dado, são exemplares do melhor teatro ao cruzarem os cestinhos e passarem adiante como se nunca houvessem deitado o olho a tal figura semelhante.