Amar é cansar-se de estar só: é uma cobardia portanto, e uma traição a nós próprios (importa soberanamente que não amemos) Bernardo Soares, O livro do Desassossego


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terça-feira

Conhecem-se há muito tempo.
Sempre se sentiram bem na companhia um do outro.
Partilham gostos comuns, têm a mesma noção da vida. São ambos livres e desimpedidos, independentes economicamente. Saiem habitualmente duas vezes por semana. Uma para um programa cultural, outra para jantar. Sabem os dois que é mais que uma amizade, mas nunca conversaram sobre o assunto.
Ela espera ansiosamente que ele avance. Dê o primeiro passo nessa direcção.
Ele receia que se levar o assunto por esse caminho, ela se ofenda e  perca a companhia que lhe é tão cara.
Esta semana, no dia do jantar, ela inadvertidamente e no calor da narrativa, segurou-lhe a mão.
Ele, surpreendido pelo gesto, retirou-a.
Ela tomou a atitude como um acto de repulsa.
Pediu-lhe desculpas e lamentou-se pelo resto da noite.
Ele não quis aceitar as explicações dela e disse que quem tinha que se retratar era ele, pela sua postura inaceitável.
Envergonhados os dois, nunca mais se encontraram.

 

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