Um disparate. Incontrolável. Uma bestialidade. Irracional.
De o deixar irracional.
Dos outros na sua situação não sabía o que lhes havía tocado em sorte. Mas ele não. Tudo o que de mau podería existir condensara-se no que lhe havía ido parar a casa.
De ínicio achara-lhe graça. Parecía um boneco com pilhas alcalinas, peludo, desajeitado. E é como dizem: Tudo o que é pequeno tem graça.
Mas à medida do crescimento o aumento proporcional dos estragos, das despesas de veterinário, de comida. A substituição sem hipótese de restauro de móveis, almofadas, fios, sapatos. Já para não falar na pequenez da capacidade de aprender onde fazer as necessidades. Estas sim, cada vez mais e mais odoríferas e sempre nos locais menos apropriados.
Um disparate.
Achar que tê-lo sería uma compensação à solidão. Não. Apenas o mantinha continuadamente ocupado e sempre em tarefas nada agradáveis. De solitário e calmo passara a solitário e uma pilha de nervos.
Ainda podería acrescentar que deixara de ter horas e momentos só para si. Ler o jornal, ficar até tarde na cama eram actividades que pertencíam ao passado. Agora levantava-se ainda noite, com chuva ou sem ela, dobrava-se para apanhar dejectos nauseabundos, a roupa sempre marcada de patadas.
Um disparate.
Concluiu que era ele ou a besta.
Antes só e lúcido do que mal acompanhado e enlouquecido.
Não o podíam julgar. Ele racional, homem.
Levou-o a passear para longe. Muito longe. Tão longe que tiveram de ir de carro.
Fez-lhe a vontade.
Deixou-o urinar em todas as árvores, roer tudo o que conseguiu abocanhar, correr em todas as direcções.
Aquela em que o cão seguiu foi a contrária à que regressou a casa.
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