Amar é cansar-se de estar só: é uma cobardia portanto, e uma traição a nós próprios (importa soberanamente que não amemos) Bernardo Soares, O livro do Desassossego


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sábado

Barbeado, levemente perfumado, lenço ao pescoço, sapatos reluzentes.
Está pronto.
Não. Faltam duas coisas. O alfinete de ouro e a canadiana.
 
Em vésperas deste dia, embora se deite cedo e tente repousar o mais possível nunca consegue conciliar toda a tranquilidade necessária para aparentar um bom ar. É muita agitação saber que hoje é o dia. Afinal, só se pode dar a este luxo uma vez por mês e tem que aproveitar muito bem todos os momentos.
Depois, já é conhecido. Há uma reputação a manter. Créditos que não se podem desperdiçar. Muito menos perder para outro cavalheiro que decerto ao destroná-lo, nunca mais recuperaría o mérito. Aqui, quem o vê assim, direito, não há-de pensar em todo o trabalho que lhe deu a alcançar tudo isto. Mas deu. E os anos não oferecem perdão.
 
As senhoras hão-de estar ávidas de o rever. Muitas saudades decerto. Passaram trinta dias. É um quebra-corações. Ele sabe. Daqui a nada, o beija-mão. A selecção. Ele é que escolhe. Elas sabem.
 
Tempo de se pôr a caminho.
Até à colectividade ainda é uma boa meia-hora de autocarro. E a ter de fingir que é coxo para lhe darem o lugar sentado ainda demora a chegar à paragem.
 
O que não se faz por uma matiné dançante.